quarta-feira, setembro 10, 2008

Café com Cronópios


O Canto dos Cronópios

Quando os cronópios cantam suas canções preferidas, ficam de tal maneira entusiasmados que freqüentemente se deixam atropelar por caminhões e ciclistas, caem da janela e perdem o que tinham nos bolsos e até a conta dos dias.
Quando um cronópio canta, as esperanças e os famas acorrem a ouvi-lo embora não compreendam muito seu arrebatamento e em geral se mostrem um tanto escandalizados. No meio da roda o cronópio suspende os bracinhos como se segurasse o sol, como se o céu fosse uma bandeja e o sol a cabeça do batista, de forma que a canção do cronópio é Salomé nua dançando para os famas e as esperanças que ali estão boquiabertos e perguntando-se se o senhor padre, se as conveniências. Mas como no fundo são bons (os famas são bons e as esperanças bobas) acabam aplaudindo o cronópio, que se recupera sobressaltado, olha em redor e começa também a aplaudir, coitadinho.

J. Cortázar

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial