Café com os pássaros
Os pássaros cantavam em coro na minha janela...
logo de manhã cedinho!
Um, mais ousado, veio para o meu lado.
Cantou, cantou...
e foi embora.
Com ele foram todos os outros pássaros.
Haviam dado o recado
como de costume,
pois uma vez ou outra,
eles aparecem na minha janela.
Eu sempre entendo o que querem me dizer, sempre.
Mas é segredo.
Sempre é segredo.
Café com Leminski
Esse súbito não ter
Esse estúpido querer
Que me leva a duvidar
quando eu devia crer
Esse sentir-se cair
quando não existe lugar
aonde se possa ir
Esse pegar ou largar
essa poesia vulgar
que não me deixa mentir
[Paulo Leminski]
Café com esperança
Os olhares inocentes
falam a mesma lingua e têm as mesmas cores.
O medo e a miséria
gritam com o mesmo clamor.
As preces dos que carregam a esperança
lapidam os sonhos
dos felizes passos infantis.
Café com fé
São dois.
A ti
te saludo.
A ti
palmas juntas
no coração.
Cinco sentidos.
karmas:
são cinco.
Um dia
um momento
a vida.
A doação
de alma
e canção.
Vozes ao vento
do silêncio que grita
Namastê
***
A palavra Namaste [pronuncia-se Namastê] é composta de duas palavras sânscritas: Nama [reverência, saudação] e Te, que significa você. Em síntese é saúdo a você, de coração, ao que deve ser retribuído com o mesmo cumprimento. Pelos meios esotéricos acabou ganhando o significado floreado de "O Deus que habita em mim saúda o Deus que há em você".
O gesto do Namaste, conhecido pelos budistas como Anjali mudra, consiste no simples ato de juntar as palmas das mãos ante o coração [ou mais precisamente o chakra do coração], e inclinar levemente a cabeça. Metaforicamente, os cinco dedos da mão esquerda representam os cinco sentidos de karma, enquanto os da direita representam os cinco órgãos do conhecimento. Significa então que mente e coração devem estar em harmonia, para que nosso pensar e agir estejam de acordo com o Dharma. Também é um reconhecimento da dualidade que existe no mundo e sugere um esforço de nossa parte para trazer essas duas forças unidas em equilíbrio.Contando os dedos, um total de dez é alcançado. O número dez é símbolo da perfeição, da unidade, em todas as tradições antigas. As dez Sephiroth na Árvore da Vida, os dez Mandamentos, o símbolo da criação no sistema de Pitágoras e o número do equilíbrio perfeito para os antigos Chineses.
Café com desejos
Desejos vãos
Eu queria ser o mar de altivo porte
que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a pedra que não pensa
a pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o sol, a luz intensa
o bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e tensa
que ri do mundo vão e até da morte!
Mas o mar também chora de tristeza...
As árvores também, como quem reza
abrem, aos céus, os braços, como um crente!
E o sol, altivo e forte, ao fim de um dia
tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras
essas...
pisa-as toda a gente!
[Florbela Espanca]
Café com mentiras
Passa a música. Tá...essa aí eu gosto, perfeitaaaaaaa....Pronto!
Aperte stop e deixa eu me preparar.
Vai lá...aperta o play, espera 3'37'' e pode desligar.
Bem melhor, relaxei e agora estou pronta para mudar.
Quero brincar de ser eu, enjoar e ser qualquer coisa que caiba no instante.
Não quero ser eu para sempre, pois eu sou chata e desprezível.
Tem quem diga que não...ah loucos!
Mas o melhor de tudo é que eu minto.
É! Eu minto, sempre menti!
Não sabia? Então tá! Acabei de mentir que eu minto.
A partir de agora será só mentiras.
Daqui em diante, imploro que não acredite em mas nada daquilo que digo.
Assim quero, e inevitavelmente será.
Minto para mim. Minto para sede, para as vontades, para as insanidades.
Minto para o sim, dizendo que prefiro o não.
Minto se eu disser que gosto de você.
E minto mais ainda, se eu disser que já sinto saudades.
Tudo que até agora escrevi neste café, não passa de mentiras.
Inclusive esse texto.
É TUDO MENTIRA!
Minta criatura, minta. Mas cuidado para o nariz não crescer...
o meu está enorme.
3'37" - exclusivos de Redemption Song
“Mentiras sinceras me interessam...me interessam”
Café na janela
Há só uma janela fechada
e todo o mundo te esperando...
lá fora.
"Deixai que os fatos sejam fatos naturalmente, sem que sejam forjados para acontecer.
Deixai que os olhos vejam os pequenos detalhes lentamente.
Deixai que as coisas que lhe circundam estejam sempre inertes como móveis inofensivos para lhe servir quando for preciso e nunca lhe causar danos, sejam eles morais, físicos ou psicológicos"
[Chico Science - Sapiência]
Café sem chaves, sem relógios.
• Eu já joguei os meus relógios e as chaves fora.
Só guardei o meu calendário Asteca e uma bússola.
Acertei as contas.
Juro!
A memória sabe o que se deve guardar inteiro.
Foi a paz que inventei pra mim.
Prefiro assim •
