quarta-feira, novembro 29, 2006

Café nas entrelinhas


Procuro algo
Algo que não tem nome.

Já encontrei disfarçado em mãos que segurei
abraços que ganhei
e em beijos que não quero mais.

Algo perdido ficou
Na melodia da música triste
e nas entrelinhas desses versos.




"...E se um dia hei de ser pó, cinza e nada

Que seja a minha noite uma alvorada,

Que eu saiba me perder


pra te encontrar..."

[Florbela Espanca]

terça-feira, novembro 28, 2006

Café com déjà vu


Por esse déjà vu
eu toco o blues mais azul.
Por essa cópia imprestável
que agonia que arrepia
eu canto o blues mais azul.
Por esse pensamento fragmentado
presente passado eu te deixo o blues mais azul.

Por essas imagens vivas cheia de texturas cores figuras
eu embalo o blues mais azul.
Por essa memória perdida fingida te achei nesse blues mais azul.
você , meu déjà vu.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Café com Totonha



Se ela tinha 80? Não sei, mas que era uma senhora arretada...eu sei.
Marcelino Freire narrou "Totonha", no Encontro Natalense de Escritores,
e eu registro aqui.

Totonha

Capim sabe ler? Escrever? Já viu cachorro letrado, científico? Já viu juízo de valor? Em quê? Não quero aprender, dispenso.
Deixa pra gente que é moço. Gente que tem ainda vontade de doutorar. De falar bonito. De salvar vida de pobre. O pobre só precisa ser pobre. E mais nada precisa. Deixa eu, aqui no meu canto. Na boca do fogão é qeu fico. Tô bem.
Já viu fogo ir atrás de sílaba? O governo me dê o dinheiro da feira. O dente o presidente. E o vale-doce e o vale-linguiça. Quero ser bem ignorante. Aprender com o vento, tá me entendendo?
Demente como um mosquito. Na bosta ali, da cabrita. Que ninguém respeita mais a bosta do que eu. A química.
Tem coisa mais bonita? A geografia do rio mesmo seco, mesmo esculhambado? O risco da poeira? O pó da água? Hein? O que eu vou fazer com essa cartilha? Número? Só para o prefeito dizer que valeu o esforço? Tem esforço mais esforço que o meu esforço?
Todo dia, há tanto tempo, nesse esquecimento. Acordando com o Sol. Tem melhor be-á-bá? Assoletrar se a chuva vem? Se não vem?
Morrer já sei. Comer, também. De vez em quando, ir atrás de preá, caruá. Roer osso de tatu. Adivinhar quando a coceira é só uma coceira, não uma doença. Tenha santa paciência! Será que eu preciso mesmo garranchear meu nome? Desenhar só para a mocinha aí ficar contente? Professora, que valia tem meu nome numa folha de papel, me diga honestamente. Coisa mais sem vida é um nome assim, sem gente. Quem está atrás do nome não conta? No papel, sou menos ninguém do que aqui, no Vale do Jequitinhonha. Pelo menos aqui todo mundo me conhece. Grita, apelida. Vem me chamar de Totonha. Quase não mudo de roupa, quase não mudo de lugar. Sou sempre a mesma pessoa. Que voa.
Para mim, a melhor sabedoria é olhar na cara da pessoa. No focinho de quem for. Não tenho medo de linguagem superior. Deus que me ensinou. Só quero que me deixem sozinha. Eu e minha língua, sim, de passarinho entende, entende? Não preciso ler, moça. A mocinha que aprenda. O prefeito que aprenda. O doutor. O presidente é que precisa saber ler o que assinou. Eu é que não vou baixar a minha cabeça para escrever.
Ah, não vou.

Marcelino Freire, em Contos Negreiros.

www.eraodito.blogspot.com

sexta-feira, novembro 17, 2006

Café com totalidade


Um porto
um cais.
Uma estação
sinais.
A estrada...
fé.


A cada momento há a possibilidade de ser total. Seja o que for que esteja fazendo, fique tão completamente absorto, de modo que a mente não pense nada, esteja simplesmente ali, seja apenas uma presença. E mais e mais totalidade virá para você e o sabor da totalidade o tornará cada vez mais e mais capaz de ser total.Procure perceber quando você não está sendo total. Esses são os momentos que precisarão ir sendo abandonados pouco a pouco. Quando você não é total... sempre que você estiver na cabeça -- pensando, refletindo, fazendo cálculos, sendo astuto, achando soluções engenhosas --, você não é total. Pouco a pouco, vá se descartando desses momentos. Trata-se apenas de um velho hábito. Hábitos são difíceis de se deixar. Mas eles morrem certamente -- se a pessoa persiste, eles morrem.


[Osho Take it Easy, Volume 1 Chapter 12.]

quarta-feira, novembro 15, 2006

Café com estranhos


Cortina de chuva na janela.
Olhos nublados.
Ela:atração; Ele:espectador.
Romance sem palavras, diálogo de mudos.
Muralha entre. Lábios de vidro.
Pensara ele ser um delinquente, Quisera ela
ter sentimentos, mas era apenas
Andróide.


Quem são os amish?

Eles são um grupo cristão que busca viver isolado da sociedade
moderna e de seus confortos - como automóveis, telefone e eletrecidade.
As comunidades amish recriam o modo de vida rural do século 17, quando a igreja foi criada pelo suíço Jakob Amman (daí o nome).
Reconhecíveis por suas roupas antigonas e carruagens, às vezes
os amish são confrontados de forma nada agradável com o mundo
dos “outros”. A mais recente foi a invasão de uma escola por um atirador que matou 5 alunas na Pensilvânia.

Fonte: Super Interessante – nov/2006.


terça-feira, novembro 14, 2006

Café com Danaides



As 49 cinzas ficaram espalhadas
pelo chão.
O peso da nossa gente
só desce a ladeira,
mas dá para chegar na pedreira.

Elas estão por lá.
Depois de ter contado as
300 borboletas
fui dormir.
Encomenda feita.

Numa pequena porção de mim,
Não mato as verdades.
Nossas vontades.

Muitas vaidades
Danaides.


Lenda ligada à cidade de Argos

Danaides

Épafo casou-se com Mênfis, filha do deus-rio Nilos, e teve numerosos descendentes. Os mais importantes foram Agenor, rei de Tiro (Fenícia), pai de Cadmo e de Europa, e Belo, rei do Egito e pai de dois filhos gêmeos, Egito e Dânao. Egito teve cinqüenta filhos, os egiptíades, e Dânao, cinqüenta filhas, as danaides (nos dois casos, é claro, de diferentes mulheres).
Dânao reinou sobre a Líbia, e Egito sobre o Egito, mas um dia se desentenderam e entraram em guerra. Dânao, derrotado pelos aguerridos egiptíades, teve de fugir sozinho com as filhas para Argos, terra de seus ancestrais. Dânao e suas filhas foram bem recebidos pelo povo argivo, e Dânao acabou se tornando rei de Argos.
Naquela época, a região estava privada de água por causa de Posídon, ainda enraivecido por ter perdido o patronato de Argos para a deusa Hera. Tudo se resolveu, no entanto, quando o deus se enamorou de uma das danaides, Amímone, com quem teve um filho, Náuplion, o fundador da cidade de mesmo nome.
Mas, um belo dia, os egiptíades apareceram em Argos, propuseram ao tio uma reconciliação e pediram, ainda, as cinqüenta danaides em casamento.
Dânao aparentou concordar, mas presenteou cada uma das danaides com uma adaga e ordenou-lhes que matassem os maridos na noite de núpcias.
Quarenta e nove danaides obedeceram, e quarenta e nove egiptíades foram assassinados. Somente Hipermnestra, a filha mais velha, poupou o marido, Linceu, por quem acabara se apaixonando. O velho Dânao quase matou a filha e o sobrinho-genro mas, por fim, acabou se entendendo com eles.
Quanto às quarenta e nove danaides, sua punição foi terrível: os deuses condenaram-nas, no Hades, a encher de água um vaso cheio de furos durante toda a eternidade.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Café com Fuga


Onde acaba essa minha fuga?
Fuga de você
Fujo e sei fugir
Fuga de você
Fujo e refugio-me
nas palavras escritas, no silêncio que grita
nas esquinas, nos sinais.

Fujo e refugio-me,nas labaredas, nos pingos de chuva
e naquele cais

Fujo de mim, de você, fujo de nós
de vós.

Fujo do ontem, do hoje na verdade
não fujo jamais.

Se fugi uma vez esqueci,s e fugi por uns dias
não sei.

Se fugi a qualquer preço não lembrei
Se continuo fugindo nunca lembrarei

Fuga que anula as almas,que cala, que me faz pensar
Refém fuga de mim

domingo, novembro 12, 2006

Café com teatro


O palco é grande.
Cabe quantos personagens
e roteiros que eu quiser.
Estrelei vários papeis

mas a cena que escolhi para mim
você ainda não leu.
Os atores entraram

as cortinas se abriram
a música rolou
a luz apagou.


Me tienden la copa y yo debo ser la cicuta.
Me engañan y yo debo ser la mentira.
Me incendian y yo debo ser el infierno.
Debo alabar y agradecer cada instante del tiempo.
Mi alimento es todas las cosas.
El peso preciso del universo, la humillación, el júbilo.
Debo justificar lo que me hiere.
No importa mi ventura o mi desventura.
Soy el poeta


[Jorge Luis Borges]

sábado, novembro 11, 2006

Café com palavras


Palavras não me encantas nem te ilude.
Te cancelo no meu sonho ilegível
que mudo é dexistência do profundo
e é tudo.


sexta-feira, novembro 10, 2006

Café com olhar


As frases que te deixo são mudas.
Cessam os olhares inexistentes de apenas um minuto.
Cala-se antes do tudo,
anula quem aguarda .
O segundo se torna constante
num silêncio que se perde no tempo.
O relógio não diz mais que o coração.
O momento, inseguro por alguns instantes,
torna-se ciclico

quarta-feira, novembro 08, 2006

Café com silêncio


Manter-se em silêncio em determinados momentos...é necessario.
Já dizia um monge quando delicadamente queria nos pedir silêncio:
"Vocês precisam escutar o vento."






terça-feira, novembro 07, 2006

Sobre o leque



O leque, objeto usado desde a mais remota antiguidade, pois aparece nas pinturas murais do Egito e da Assíria existe, pelo que se presume, há mais de 3 mil anos.
Várias são as lendas que correm sobre a sua invenção.
Uma das histórias, de fundo mitológico, conta que o primeiro leque se originou da asa de Zéfiro arrancada por cupido para abanar sua amada Psiché.
Outra, também muito encantadora, conta que a filha de poderoso mandarim, assistindo à festa das Lanternas, sentiu-se mal com o intenso calor desprendido das milhares de velas acesas e, contrariando os hábitos da época, discretamente retirou a máscara que lhe escondia rosto e com ela começou a se abanar, no que foi imitada por todas as mulheres chinesas presentes, nascendo assim o leque.

segunda-feira, novembro 06, 2006

Café com Mapa Astral



Fragmentos do meu mapa astral

O nome Tamara tem duas origens - russa e hebraica.

Dito por uma cigana: Tamara = "Luz do Sol" - para os indígenas.

Signo: Capricórnio
Planeta regente :Saturno
Elemento :Fogo
Número de Ambição : 4
Número de Personalidade : 9
Número de Expressão: 4
Número de Destino: 7

Segundo seu dia de nascimento...

Na numerologia, este é considerado um grande aniversário.
E um dia que tende a te levar perante o público, pois você e uma pessoa intuitiva e idealista, com fortes qualidades de liderança. Desgraçadamente, você e inclinado a melancolia e volubilidade, por causa de seus fortes sentimentos; com você, o bem e sempre o muito bom, e o mal e sempre muito mau.
Você vive numa gangorra emocional, não sendo assim de convívio fácil, nem fácil de entender. Os interesses fora de seu trabalho podem ser um conforto e te ajudar a se manter num estado calmo e sereno.
Precisa de uma válvula para seu senso artístico e dramático, talvez escrevendo, ou pela música. Pode ser tremendamente bem sucedido se outros fatores de seu numeroscópio concordarem.

Segundo seu número de destino...

Ser uma pessoa sábia e analítica. O seu caminho é o do pensador e filósofo.
Você tenderá naturalmente para estudo do porque das coisas e das teorias, pois sua tarefa é descobrir a verdade disfarçada sob as aparências e, ao fazer isto,adquirir sabedoria.
A correria e os choques da vida moderna não são para você.
O seu melhor lugar é por trás do palco, trabalhando de forma isolada. E terá de aprender a ser só, por algum tempo, e a gostar disto, pois essa é uma condição essencial para o seu desenvolvimento interior.
Apenas no silêncio você encontrará a resposta para os problemas da vida. Só com a compreensão de que as respostas estão no seu próprio intimo, você terá condições de ajudar os outros.
O secreto, o antigo e o misterioso terão sempre encanto para você, que só terá sucesso quando aprender a agir ouvindo o mais profundo do seu interior.
Jamais corra atrás de qualquer coisa. Aceite os seus parceiros de modo filosófico. Você tornará as coisas mais difíceis para si mesmo se tiver medo do fracasso e da solidão, se for alguém insensato e não quiser aprender o segredo da vida. E isto em qualquer área em que você atuar. Seu sucesso vira da especialização e do desenvolvimento de suas habilidades e sabedoria inatas.

domingo, novembro 05, 2006

Sobre encontros e desencontros


E tudo começou por causa de uma carta não assinada...
Que veio sem plumo, sem rumo.
As dores em formas de lembranças, andanças.
E dentro vinha uma pedra, amarrada numa fita, e junto...
uma escrita:

“ Hoje eu tenho apenas uma pedra no meu peito
Exijo respeito, não sou mais um sonhador
Chego a mudar de calçada
Quando aparece uma flor
E dou risada do grande amor
Mentira! ”
Toda indignação já havia sido exclamada.
Sob o jogo de formas: encontros e desencontros.
De caminhos paralelos, em busca das avenidas,
ruelas das minhas cidades perdidas.

quinta-feira, novembro 02, 2006

Sobre um Porto


Me diga qual as cores dos seus sonhos, que direi quem és!
Me diga o ritmo, que digo se quero te acompanhar.
Onde fica o porto? Preciso ancorar.



Fragmentos de um Evangelho Apócrifo

3. Desventurado o pobre em espírito, porque debaixo da terra será o que agora é na terra.
5. Ditosos os que sabem que o sofrimento não é uma coroa de glória.
6. Não basta ser o último para alguma vez ser o primeiro.
7. Feliz o que não insiste em ter razão, porque ninguém a tem ou todos a tem.
14. Ninguém é o sal da terra; ninguém, em algum momento de sua vida, não o é.
16. Não há mandamento que não possa ser infringido, e também os que digo e os que os profetas disseram.
18. Os atos do homem não merecem o fogo nem os céus...

Jorge Luis Borges
Elogio da Sombra - 1969

quarta-feira, novembro 01, 2006

Café com Verdade



É verdade. Eu não gosto de receber rosas vermelhas.
Desculpe-me a descompostura...
rosas sofridas.
Um nada sensual,
somente banal.
Pétalas trêmulas que tentam tapar a ferida.
Não têm culpa, mas para mim são mudas.



"Ó minha nega
samba, bamba muito louco
já estou ficandodusouto
samba bamba balançar"
[DuSouto]